No dia seguinte, estrada acima, lá fui eu para ‘atrás de serra’ como diziam os nossos antigos. Comodamente, de automóvel, não a pé ou a cavalo num macho, como era antigamente. Levei comigo a companhia do Leonardo Costa e do José Luís para uma tarde bem passada. No percurso que fazia o saudoso Américo da camioneta da carreira, chegámos ao despovoado Porto da Balsa (agora marcado por um vistoso solar, construído em xisto) que mantém a sua quietude, bem enquadrada com o murmúrio da água na ribeira. Parámos ali, por alguns instantes, para curtir a nostalgia dos tempos idos, quando visitávamos a tenda do ti Adrião para beber um copo e comer um petisco, normalmente peixe do rio ou sandes de presunto. Ou mesmo uma lata de conserva para acompanhar a pinga. Enfim, tudo acabou. Ai que saudades, ai, ai!...
Num ápice estávamos na sede da Comissão de Melhoramentos, na altaneira aldeia da Camba (que em miúdo conhecia como a terra da Maria Cabral). Muita gente na sala de convívio (agora aberta todo o ano, mercê da dinâmica do jovem José Manuel) e lá estavam os nossos amigos Carlos Simões e José João, bem como o José Luís Pereira, simpático anfitrião, com quem bebemos um cafezinho e uma especial aguardente de medronho. O amigo Luís Gonçalves, sportinguista-residente, desta vez sem o seu acordeão, estava a jogar cartas numa boa suecada. Dois dedos de conversa e, antes da partida, a surpresa do Carlos Simões me passar cartão como ‘leão efectivo’.
A tarde estava mesmo boa para um passeio de recordações. Da Camba demos uma saltada à barragem do Alto Ceira, local mítico dos piqueniques de há cinquenta anos, quando, no verão, a rapaziada do Monte Frio organizava excursões na camioneta de carga do Manuel Manhoso (sempre disposto para agradar às filhas e às sobrinhas). Era uma alegria, tudo a cantar, naquelas viagens incómodas, com dezenas de pessoas, amontoadas na carroçaria, traziam os farnéis, depois estendiam as mantas à beira da água e ali passavam um dia feliz e divertido, com jogos de roda e cantigas tradicionais, rompendo com o quotidiano montefriense. A velha barragem continua bucólica e atrativa, embora com acessos deteriorados, estrada em mau estado, por falta de manutenção. Mesmo ao lado, no entanto, verificámos a construção de uma nova barragem em fase de acabamento. Contudo, os tempos mudaram, as solicitações são outras… e quem vai agora lembrar-se de fazer piqueniques na barragem?
As cabrinhas do José Lopes
Seguimos viagem e depois de passar pela bonita Fórnea, a subida até ao parque eólico. Lá no alto, o José Luís fez questão de observar o Tojo, lá tão fundo. Por fim, a descida pelo outro lado da serra, completando um vasto e saudável passeio turístico.
E assim passámos uma tarde tão agradável «atrás de serra», como diziam os antigos, quando se referiam às aldeias como a Camba, Malhada Chã, Piódão, Covanca, Fórnea, Tojo, Fajão, etc. O Leonardo e o José Luís ficaram encantados com a jornada. Também eu!
V. C.